30.10.07

Diarística

Estava a pensar noutra coisa: eis a verdadeira e única razão de ser da amizade: fornecer um espelho onde o outro pode contemplar a sua imagem de outrora; e se não fosse o eterno palavreado de recordações entre compinchas, há muito que essa imagem se teria apagado.
(...)
A amizade é indispensável ao homem para o bom funcionamento da sua memória. Lembrar-se do passado, trazê-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para se conservar, como se costuma dizer, a integridade do eu. Para que o eu não encolha, para que mantenha o seu volume, é preciso regar as recordações como as flores de um vaso, e essa rega exige um contacto regular com testemunhas do passado, isto é, com amigos. Eles são o nosso espelho, a nossa memória; não se exige nada deles, apenas que, de vez em quando, puxem o lustro a esse espelho para que nos possamos mirar nele.

Milan Kundera (in A Identidade)

1 comentário:

Anónimo disse...

saudades tuas....