5.4.09

«Que revolução? A revolução, claro.»

"Sabe-se como é: quase todas as manhãs acordo angustiado, esforço-me por imaginar que este dia é virgem e primeiro, carregado de poderes enigmáticos, destinado às revelações. (...)" (1)

"Seria preciso, antes de mais nada, que os começos fossem começos verdadeiros. Oh! Vejo tão claramente, agora, o que pretendia! Começos verdadeiros, aparecendo como um toque de trombeta, como as primeiras notas dum ritmo de jazz, bruscamente, cortando rente o aborrecimento, consolidando a duração; noites entre as outras noites, das quais se diz mais tarde: «Andava a passear, era uma noite de Maio...» anda uma pessoa a passear (a Lua acaba de nascer), ociosa, disponível, um pouco vazia. E depois, de súbito, pensa-se: «Aconteceu qualquer coisa». O quê não importa: um ligeiro estalido na sombra, um vulto rápido a atravesar a rua. Mas esse acontecimento obscuro não é semelhante aos outros: percebe-se logo que vem à frente duma grande forma, cujo desenho se perde na bruma, e acrescenta-se: «É o começo de alguma coisa»." (2)

(1) e título: Herberto Helder, Os Passos em Volta, p. 111-112
(2) Jean-Paul Sartre, A Náusea, p. 54

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