28.3.09

«Acontece que os cenários desabam»

E depois, bruscamente, acordei de um sono de seis anos.
A estátua pareceu-me desagradável e estúpida, e senti que me aborrecia profundamente. Não conseguia compreender porque é que estava na Indochina. Que estava eu ali a fazer? Porque estava a falar com aquelas pessoas? Porque estava vestido de uma maneira tão exótica? Tinha morrido a paixão que me submergia e arrastara durante anos; naquela altura sentia-me vazio.

Jean-Paul Sartre, A Náusea, p. 17
título: Albert Camus, O Mito de Sísifo, p. 24

1 comentário:

a. disse...

As frialdades da linha pura.
O que existe por baixo:
a inteligência da sua angústia,
o vazio que lhe enche o interior.
(...)
Eu vou caindo em tudo
o que vejo passar por dentro dos meus olhos.
Sei que é pouco - tão pouco - o que sei.
Sei que é nada
o que é dado a conhecer ao homem.
Procuro recordar. Procuro
recordar, mas um abismo
interpõe-se à minha frente.
Entre a lembrança e eu
o que resta de alguém
a meia voz, a meia luz, a meio?
O que resta que não seja
tudo o que já se foi?
(...)

Jaime Siles, Propriedade em Usofruto (traduzido por Fernando Pinto do Amaral)