Richard Rorty
3.6.08
9.5.08
The Invented Reality
"A cell stands ou of a molecular soup by defining and specifying boundaries that set it apart from what it is not. However, this specification of boundaries is done through molecular productions made possible through the boundaries themselves. (...)
That the world should have this plastic texture, neither subjective nor objective, not one and separable, neither two and inseparable, is fascinating. It points both to the nature of the process, which we can chart in all of its formality and materiality, as well as to the fundamental limits about what we can understand about ourselves and the world. It shows that reality is not just constructed at our whim, for that would be to assume that there is a starting point we can choose from: inside first. It also shows that reality cannot be understood as given and that we are to perceive it and pick it up, as a recipient, for that would also be to assume a starting point: outside first. It shows, indeed, the fundamental groundlessness of our experience (...)" 1
"Constructivism does not create or explain any reality "out there"; is shows that there is no inside and no outside, no objective world facing the subjective, rather, it shows that the subject-object split, that source of myriads of "realities", does not exist, that the apparent separation of the world into pairs of opposits is constructed by the subject, and that paradox opens the way into autonomy." 2
Franciso Varela (1) e Paul Watzlawick (2) (The Invented Reality)
6.5.08
Uma justificação à medida do século
"Mas a confusão entre a inteligência, a estupidez, a vulgaridade e a beleza é tão grande e tão enredada que para muita gente é mais fácil acreditar num mistério, razão pela qual anunciam constantemente o declínio de alguma coisa que se furta a um juízo exacto e se revela solenemente imprecisa. No fundo, é perfeitamente indiferente que a isso se chame raça, vegetarianismo ou alma: todo o pessimismo saudável precisa apenas de ter qualquer coisa de inexorável a que se possa agarrar. O próprio Walter, que nos seus melhores anos teria sido capaz de se rir dessas doutrinas, acabou por descobrir as suas vantagens quando se pôs a experimentá-las. Se até aí fora ele a sentir-se mal e incapaz de trabalhar, agora a incapacidade era dos tempos, e ele saudável. A sua vida, que não levara a nada, encontrava agora uma explicação prodigiosa, uma justificação à medida do século, e digna dele; ganhava mesmo a aura de um grande sacrifício de cada vez que ele pegava na pena ou no lápis para logo os largar."
O Homem sem Qualidades, Livro I, p. 101 (Robert Musil)
21.4.08
19.4.08
O Homem Absurdo ou "Homo (in)Significans"
"O que sei, o que é certo, o que não posso negar, o que não posso rejeitar, eis o que conta. Posso negar tudo dessa parte de mim que vive de nostalgias incertas, salvo esse desejo de unidade, esse apetite de resolver, essa exigência de clareza e de coesão. Posso refutar tudo neste mundo que me rodeia, me choca ou me arrebata, excepto este caos, este acaso-rei e esta equivalência divina que nasce da anarquia. Não sei se este mundo tem um sentido que o ultrapassa. Mas sei que não conheço tal sentido e que, de momento, me é impossível conhecê-lo. Que significa, para mim, um significado fora da minha condição?"
O Mito de Sísifo (Albert Camus)
1.4.08
a hundred indecisions
And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.
(...)
For I have known them all already, known them all: --
Have known the evenings, mornings, afternoons,
I have measured out my life with coffee spoons;
I know the voices dying with a dying fall
Beneath the music from a farther room.
So how should I presume?
(...)
I grow old . . . I grow old . . .
I shall wear the bottoms of my trousers rolled.
Shall I part my hair behind? Do I dare to eat a peach?
I shall wear white flannel trousers, and walk upon the beach.
-----------------------------------
The Love Song of J. Alfred Prufrock (T.S. Eliot)
27.2.08
Viagem Nunca Feita (outra, a mesma)
"Foi por um crepúsculo de vago outono que eu parti para essa viagem que nunca fiz.
(...)
Eu não parti de um porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, porque ainda nunca lá estive. Também, igualmente, o propósito ritual da minha viagem era ir em demanda de portos inexistentes - portos que fossem apenas o entrar-para-portos; enseadas esquecidas de rios, estreitos entre cidades irrepreensivelmente reais.
(...)
Eu parti? Eu não vos juraria que parti. Encontrei-me em outras partes, vi outros portos, passei por cidades que não eram aquela, ainda que nem aquela nem essa fossem cidades algumas. Jurar-vos que fui eu que parti e não a paisagem, que fui eu que visitei outras terras e não elas que me visitaram - não vo-lo posso fazer. Eu que, não sabendo o que é a vida, nem sei se sou eu que a vivo se é ela que me vive (tenha esse verbo oco «viver» o sentido que quiser ter), decerto não vos irei jurar qualquer coisa.
(...)
Triunfo-me assim de toda a realidade. Castelos de areia, os meus triunfos?... De que coisa essencialmente divina são os castelos que não são de areia?
(...)
Não desembarcar não tem cais onde se embarque. Nunca chegar implica não chegar nunca."
Livro do Desassossego (Bernardo Soares)
16.2.08
As Viagens/O Tema
Tous les voyages sont le début d'un retour aux sources. Un retour aux sources est le début de tous les voyages
Dispersos (Al Berto)
6.2.08
1
quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer
a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrerem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas
um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz
quero morrer
com uma overdose de beleza
e num sussuro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador
Vigílias (Al Berto)
4.2.08
Attachments (3)
Father. Undress yourself. While you still may.
Show me what time has scarred
since we sat in the bath together and I proved
that waterdrops want to touch one another.
Fear not. We have similar structures.
Legs, back, nails and countless gestures.
I do not want to wait for twenty-seven more years
and see how hyperpigmentation
spreads, skin slackens and
veins burst.
Show me what is left when you no
longer make love.
Recount names of women and let us
roar and resign.
31.1.08
Attachments (2)
And if I have to go, will you remember me?
Will you find someone else, while I'm away?
There's nothing for me, in this world full of strangers
It's all someone else's idea
I don't belong here, and you can't go with me
You'll only slow me down
Until I send for you, don't wear your hair that way
If you cannot be true, I'll understand
Tell all the others, you'll hold in your arms
That I said I'd come back for you
I'll leave my jacket to keep you warm
That's all that I can do
And if I have to go, will you remember me?
Will you find someone else, while I'm away?
If I Have to Go (Tom Waits)
28.1.08
Attachments (1)
"- Quando começa a anoitecer há sempre uns momentos muito particulares. De cada vez que observo isto vem-me a mesma lembrança. Ainda era muito pequeno e andava a brincar na floresta a esta hora. A criada tinha-se afastado; eu não sabia, pensava que ela ainda estava perto de mim. De repente, alguma coisa me obrigou a levantar a cabeça, e percebi que estava só. Subitamente, tudo ficou silencioso. E ao olhar à minha volta foi como se as árvores formassem um círculo, em silêncio, e me olhassem. Comecei a chorar; sentia-me tão abandonado pelos adultos, entregue aquelas grandes criaturas sem vida... Que será isto? Voltei a ter muitas vezes a mesma sensação, este silêncio súbito que é como uma língua que não ouvimos..."
As perturbações do pupilo Törless (Robert Musil)
14.1.08
13.1.08
la maison natale
I
Je m’éveillai, c’était la maison natale,
L’écume s’abattait sur le rocher,
Pas un oiseau, le vent seul à ouvrir et fermer la vague,
L’odeur de l’horizon de toutes parts,
Cendre, comme si les collines cachaient un feu
Qui ailleurs consumait un univers.
Je passai dans la véranda, la table était mise,
L’eau frappait les pieds de la table, le buffet.
Il fallait qu’elle entrât pourtant, la sans-visage
Que je savais qui secouait la porte
Du couloir, du côté de l’escalier sombre, mais en vain,
Si haute était déjà l’eau dans la salle.
Je tournais la poignée, qui résistait,
J’entendais presque les rumeurs de l’autre rive,
Ces rires des enfants dans l’herbe haute,
Ces jeux des autres, à jamais les autres, dans leur joie.
Yves Bonnefoy
1.1.08
Resolução de Ano Novo
"A Avó abre os olhos, e eu vejo uma nova luz áspera e gelada: a inteligência, uma energia que de repente recompõe todo o corpo e traz agora o retrato para o centro do tempo, tornando-o movimentado e audaz, completo. Nesse olhar progride agudamente um sorriso que o limpa da velhice e deixa o sal de uma fina malícia. Os lábios mexem-se, parecem brilhar um instante. O corpo renasce do próprio esgotamento. A Avó diz:
- É tudo mentira...
Depois as pálpebras descem e o corpo é absorvido pelo enigma. As paredes alteiam-se, o retrato recua, a minha juventude fica sem armas - fulgurante e estúpida."
Herberto Helder (Os Passos em Volta)
25.12.07
A Estalagem da Razão
A meio caminho entre a fé e a crítica está a estalagem da razão. A razão é a fé no que se pode compreender sem fé; mas é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa compreensível.
Fernando Pessoa (Prosa Íntima e de Autoconhecimento)